segunda-feira, 16 de março de 2009

Sílabas

Taizé: duas sílabas muito curtas, quase secas, que se tocam por um instante. Como uma pontuação sonora. Um nome para condensar o essencial, para expressar o indizível. Taizé para estar em silêncio e Taizé para ser falado! Taizé para vir, por milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares, há quase dois terços de século. Taizé para partir, cheios de algo invisível. Taizé para as gerações. Longe de Taizé fica algo de Taizé naqueles que alguma vez lá passaram. Momentos de luz; silêncios dos quais nos pensávamos incapazes; traços de amizades anónimas; olhares que diríamos serem quase demasiado brilhantes para serem humanos; rostos incontáveis, frequentemente jovens; também remorsos por termos tanto e tantas vezes negligenciarmos o sentido da vida. Traços dos outros e de si mesmo. Temos todos algo de Taizé no fundo coração. Temos todos, nos tortuosos registos das nossas memórias, etapas feitas em Taizé, em diferentes datas que se sobrepõem nas recordações. Caminhos sinuosos da bonita Borgonha, luz dourada das colinas no fim do Verão, quando a natureza aspira às chuvas que tardam a chegar, casas de pedra que diríamos estarem aqui desde a eternidade; sinos que, longe de romperem o silêncio, o sublinham enfaticamente. Acolhimento, serviço, cânticos conhecidos e reconhecidos, ícones, a paz colorida da igreja da Reconciliação. Quem passou um dia por Taizé diz sempre que tem que voltar. E quem diz isso e não o faz sabe, sem nunca o esquecer, que Taizé está ali, longe das grandes euforias do tempo, disponível, como se estivesse de serviço aqui na terra. Lanterna perpétua no oceano de uma humanidade agitada e perturbadora. Vigilante na noite das actualidades e das tragédias colectivas ou pessoais. Stress, ambições, disputas, batalhas por isto e por aquilo, obsessões pelo dinheiro e pelo poder, emoções ao acaso, apegos oscilantes, vacuidade das modas e das futilidades da tagarelice mediática: tudo o que acontece longe de Taizé, tudo o que fervilha ruidosamente e faz furor longe desta colina que se tornou sagrada, anula-se aqui. Reconciliação? Sim, mas antes de tudo reconciliação consigo mesmo. Em todo o caso, com essa parte de si que, oportunamente, quando as tempestades ameaçam as vidas, nos diz: basta, agora precisas de um pouco de silêncio! Escuta o que te fala no silêncio. Escuta quem te fala.

Bruno Frappat

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