sábado, 28 de fevereiro de 2009

Porquê ícones?


Os ícones participam na beleza da oração. Eles são como janelas que se abrem às realidades do Reino de Deus e as tornam presentes na nossa oração sobre a terra. Eles são um apelo à nossa própria transfiguração. Apesar de o ícone ser uma imagem, não é uma ilustração pura nem decoração. É sinal da encarnação, é presença que oferece aos olhos a mensagem espiritual que a Palavra dirige aos ouvidos.
O fundamento dos ícones é, segundo São João Damasceno (século VIII), a vinda de Cristo à terra. A salvação está ligada à encarnação do Verbo divino, por consequência, à matéria: «Deus, que não tem corpo nem figura, não podia outrora, de maneira nenhuma, ser representado por qualquer imagem. Mas agora, que Deus permitiu ser visto em carne e viver no meio dos homens, eu posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. Eu não adoro a matéria, mas sim o criador da matéria, que se tornou matéria por minha causa, que quis habitar a matéria e que, através da matéria, me deu a salvação.»
Pela fé que transmite, pela sua beleza e profundidade, o ícone pode abrir um espaço de paz, reavivar uma espera. Ele convida a acolher o mistério da salvação na nossa humanidade e em toda a criação.

Encontro de Sevilha


De sexta, dia 8, a domingo, dia 10 de Maio de 2009, centenas de jovens serão acolhidos em Sevilha. Depois do Encontro Europeu de Bruxelas, o encontro de Sevilha será uma nova etapa da «Peregrinação de Confiança através da Terra». Este será o primeiro encontro que se organiza no sul de Espanha, a convite da Delegação da Pastoral Juvenil da Arquidiocese de Sevilha e em colaboração com a Comunidade de Taizé. O irmão Alois, prior de Taizé, juntamente com vários irmãos, estará presente.
Participar no encontro de Sevilha significa:
Deixar-se acolher de forma simples para tecer laços de confiança com jovens da Andaluzia e de toda a Espanha.
Encontrar tempo para descobrir um alento para a nossa própria vida interior, através da oração, do silêncio e da escuta da palavra de Deus…
Descobrir testemunhos de uma esperança viva nas nossas vidas quotidianas…
Partilhar reflexões e experiências em face dos novos desafios que nos interpelam…
Procurar como nos pode iluminar o Evangelho…

Porque se vai a Taizé?

Vir a Taizé é ser acolhido por uma comunidade marcada por duas aspirações: avançar numa vida de comunhão com Deus através da oração e assumir responsabilidades para depositar um fermento de paz e de confiança na família humana.
Em Taizé, a oração comunitária, os cânticos, o silêncio e a meditação pessoal podem ajudar a redescobrir a presença de Deus na nossa vida e a encontrar uma paz interior, uma «razão de viver» ou um novo impulso.

Fazer a experiência de uma vida simples, partilhada com os outros, recorda-nos que Cristo espera por nós na nossa vida quotidiana, tal como ela é.

Alguns jovens procuram descobrir como seguir a Cristo para toda a vida.

Vir a Taizé pode ajudá-los a discernir este chamamento.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carta a quem gostaria de seguir Cristo


No Evangelho, ouvimos o chamamento de Jesus: «Segue-me!» Será possível responder-lhe com um compromisso para toda a vida?
Em todos nós há o desejo de um futuro feliz. Mas podemos ter a impressão de ser condicionados por muitos limites e por vezes ser surpreendidos pelo desânimo.
No entanto, Deus está presente: «O Reino de Deus está próximo» (Marcos 1,15). A sua presença torna-se perceptível quando assumimos as situações da nossa vida tal como elas são, de forma a criar a partir do que existe.
Ninguém gostaria de se atolar em sonhos de uma vida idealizada. Aceitemos aquilo que somos e também o que não somos.
Procurar um futuro feliz implica fazer escolhas.
Há pessoas que assumem opções corajosas para seguir Cristo na sua vida de família, na sociedade, num compromisso pelos outros. Também há quem se interrogue: como seguir Cristo escolhendo o caminho do celibato?
Eu gostaria muito de encorajar aqueles que se deparam com a questão de uma escolha para sempre:
Perante um compromisso destes, pode acontecer que hesites. Mas, indo mais ao fundo, encontrarás a alegria de te entregar inteiramente. Feliz aquele que não se abandona ao medo, mais sim à presença do Espírito Santo.
Talvez seja difícil acreditares que Deus te chama pessoalmente e que espera que tu o ames. A tua vida é preciosa para ele.
Chamando-te, Deus não te prescreve o que deves fazer. O seu chamamento é antes de mais um encontro. Deixa-te acolher por Cristo e descobrirás o caminho a seguir.
Deus chama-te à liberdade. Não faz de ti um ser passivo. Pelo seu Espírito Santo, Deus habita em ti, mas não se substitui a ti. Pelo contrário, ele desperta energias insuspeitas.
Jovem, podes ter medo e ser tentado a não escolher, para guardar todas as possibilidades em aberto. Mas como poderias realizar-te se permaneceres na encruzilhada?
Aceita que haja em ti uma espera não realizada e mesmo questões que não estão resolvidas. Confia-te com um coração transparente. Há na Igreja pessoas que te podem escutar. Ser escutado desta forma, ao longo do tempo, há-de ajudar-te a discernir como te podes entregar totalmente.
Não estamos sozinhos a seguir Cristo. Somos levados por esse mistério de comunhão que é a Igreja. Nela, o nosso sim torna-se louvor.
O louvor pode ser hesitante, pode surgir até da nossa miséria, mas há-de tornar-se pouco a pouco em fonte de alegria que jorra para toda a nossa vida.

Irmão Alois

Meditação do Irmão Alois para a Quaresma


A Quaresma: voltarmo-nos para Deus
A Quaresma orienta o nosso pensamento, em primeiro lugar, para a imagem do deserto, aquele onde Jesus viveu quarenta dias de solidão ou aquele que o povo de Deus atravessou, caminhando durante quarenta anos. E, no entanto, quando chegavam estas semanas que precedem a Páscoa, o irmão Roger gostava de lembrar que esse não era um tempo de austeridade ou de tristeza, nem um período para alimentar a culpabilidade, mas sim um momento para cantar a alegria do perdão. Ele via a Quaresma como quarenta dias para nos prepararmos para redescobrir pequenas primaveras nas nossas vidas.
No início do Evangelho de São Mateus, quando João Baptista proclama «arrependei-vos!», ele quer dizer «voltai-vos para Deus!» Sim, durante a Quaresma, gostaríamos de voltar-nos para Deus para acolher o seu perdão. Cristo venceu o mal, e o seu perdão constante permite-nos renovar uma vida interior. É a uma conversão que somos chamados: não a voltarmo-nos para nós próprios numa introspecção ou num perfeccionismo individual, mas a procurar uma comunhão com Deus e também uma comunhão com os outros.
Voltarmo-nos para Deus! É verdade que, no mundo ocidental, tornou-se difícil, para algumas pessoas, acreditar em Deus. Elas vêem a existência de Deus como um limite à sua liberdade. Pensam que devem lutar sozinhas para construir a sua vida. Parece-lhes inconcebível que Deus os acompanhe.
No ano passado, fui visitar os nossos irmãos que vivem na Coreia há trinta anos. Durante o caminho, acompanhado por outro irmão, estive em encontros de jovens em vários países asiáticos. O que me marcou na Ásia foi o facto de a oração parecer natural. Nas diferentes religiões, as pessoas têm espontaneamente na oração uma atitude de respeito, ou mesmo de adoração.
Certamente, nestas sociedades não há menos tensões ou violências do que no Ocidente. Mas um sentido de interioridade é talvez mais acessível, um respeito perante o milagre da vida, pela criação, uma atenção ao mistério, a algo que vai para além do que podemos ver.
Como renovar uma vida interior descobrindo e voltando sempre de novo a descobrir uma relação pessoal com Deus? Há em todos nós uma sede de infinito. Deus criou-nos com este desejo de um absoluto. Deixemos viver em nós esta aspiração!
Entre os cânticos de Taizé, um deles expressa esta espera. A letra é de um poeta espanhol, Luis Rosales, inspirado por São João da Cruz: «De noite iremos e, para encontrar a fonte, só a sede nos ilumina.» Para algumas pessoas, o tempo da Quaresma é tempo de jejum. Não que a ascese tenha um valor por si própria, mas há em cada pessoa uma espera mais profunda do que as esperas superficiais, uma sede mais essencial. E essa sede pode iluminar o nosso caminho.
Se, por vezes, caminhamos de noite ou se atravessamos como que um deserto, não é para seguirmos um ideal. Seguimos uma pessoa: Cristo. Não estamos sozinhos, ele vai à nossa frente. Segui-lo implica um combate interior, com decisões a tomar, com fidelidades de toda uma vida. Neste combate, não nos apoiamos sobre as nossas próprias forças, mas abandonamo-nos à sua presença. O caminho não está traçado de antemão, implica também acolher surpresas, criar com o inesperado.
Deus não se cansa de retomar o caminho connosco. Podemos acreditar que uma comunhão com ele é possível e assim nunca nos cansamos de, também nós, retomar sempre de novo o combate. Não perseveramos para nos apresentarmos diante de Deus com o nosso melhor aspecto. Não, aceitamos avançar como pobres do Evangelho, que se confiam à misericórdia de Deus.
A Quaresma é um tempo que nos convida à partilha. Leva-nos a pressentir que não nos sentiremos realizados se não consentirmos a renúncias. Renúncias feitas por amor. Quando, noutra ocasião, Jesus se encontrava no deserto, cheio de compaixão por aqueles que o tinham seguido, multiplica cinco pães e dois peixes para alimentar cada pessoa. Que sinais de partilha podemos nós realizar?
O Evangelho valoriza a simplicidade de vida. Chama-nos a dominar os nossos próprios desejos para nos conseguirmos limitar, não por constrangimento mas por escolha. Este apelo é hoje muito actual, não somente em termos pessoais, mas na vida das nossas sociedades. A simplicidade escolhida livremente permite que os mais favorecidos resistam à corrida ao supérfluo e contribui à luta contra a pobreza imposta aos mais deserdados.
Durante este tempo da Quaresma, ousemos rever o nosso estilo de vida. Não para dar má consciência àqueles que não o fazem, mas com o propósito de sermos solidários com os mais desamparados. O Evangelho incentiva-nos a partilhar livremente, dispondo das coisas com beleza simples da criação.

Taizé...Fonte de Vida e Paz