terça-feira, 31 de março de 2009

A misericórdia


«Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia» (Mateus 5,7). Aos misericordiosos, Jesus não promete nada mais do que aquilo que eles já vivem: a misericórdia. Em todas as outras Bem-aventuranças, a promessa contém sempre algo mais, leva mais longe: os que choram serão consolados, os puros de coração verão a Deus. Mas o que poderia Deus dar de mais aos misericordiosos? A misericórdia é já plenitude de Deus e dos homens. Os misericordiosos vivem já a mesma vida de Deus.

«Misericórdia» é uma palavra antiga. Durante a sua longa história, tomou um sentido muito rico. Em grego, língua do Novo Testamento, misericórdia diz-se éléos. Esta palavra é-nos familiar através da oração Kyrie eleison, que é um apelo à misericórdia de Deus. Éléos é a tradução habitual, na versão grega do Novo Testamento, da palavra hebraica hésèd. É uma das mais belas palavras bíblicas. Muitas vezes, traduzimo-la simplesmente por amor.

Hésèd, misericórdia ou amor, faz parte do vocabulário da aliança. Da parte de Deus, designa um amor inabalável, capaz de manter uma comunhão para sempre, seja o que for que vier a acontecer: «O meu amor por ti nunca mais será abalado» (Isaías 54,10). Mas, como a aliança de Deus com o seu povo é uma história de rupturas e de recomeços desde o início (Êxodo 32–34), é evidente que um tal amor incondicional implica perdão, e não pode ser senão misericórdia.

Éléos traduz ainda uma outra palavra hebraica, rahamîm. Esta palavra associa-se frequentemente a hésèd, mas está mais carregada de emoções. Literalmente, significa as entranhas; é uma forma plural de réhèm, o seio materno. A misericórdia, ou a compaixão, é aqui o amor profundo, a afeição de uma mãe pelo seu filho (Isaías 49,15), a ternura de um pai pelos filhos (Salmo 103,13), um amor fraternal intenso (Génesis 43,30).

A misericórdia, no sentido bíblico, é muito mais do que apenas um aspecto do amor de Deus. Por três vezes, Deus pronuncia o seu nome a Moisés: Na primeira vez, diz: «Eu sou aquele que sou» (Êxodo 3,14). Na segunda vez: «Concedo a minha benevolência a quem eu quiser, e uso de misericórdia com quem for do meu agrado» (Êxodo 3,19). O ritmo da frase é o mesmo, mas a benevolência e a misericórdia substituem aqui o ser. Para Deus, ser quem ele é, é ter benevolência e misericórdia. O que confirma a terceira proclamação do nome de Deus: «Senhor! Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e de fidelidade» (Êxodo 34,6).

Esta última fórmula foi retomada pelos profetas e nos salmos, em particular no salmo 103 (versículo 8). Na sua parte central (versículos 11 a 13), este salmo maravilha-se com a envergadura inaudita da misericórdia de Deus. «Como é grande a distância dos céus à terra, assim é a sua misericórdia…»: ela é a grandeza de Deus, a sua transcendência. Mas ela é também como que a sua humanidade: «Como um pai se compadece dos filhos…» Tão transcendente e tão próxima, a misericórdia é capaz de ultrapassar todo o mal: «Como o Oriente está afastado do Ocidente, assim ele afasta de nós os nossos pecados».

A misericórdia é o que há de mais divino em Deus e é também o que há de mais completo no homem: «ele te enche de graça e de ternura», diz ainda o salmo 103. É preciso ler este versículo à luz de um outro versículo do salmo 8, onde se diz que Deus coroa o homem de «glória e de honra». Criados à sua imagem, os homens são chamados a partilhar a glória e a honra de Deus. Mas são a misericórdia e a ternura que nos fazem realmente participar na própria vida de Deus.

A palavra de Jesus: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lucas 6,36) faz eco de um antigo mandamento: «Sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo» (Levítico 19,2). À santidade, Jesus deu a face da misericórdia. É a misericórdia que é o mais puro reflexo de Deus na vida humana. «Pela misericórdia para com o próximo, tu tornas-te parecido com Deus» (Basílio, o Grande). A misericórdia é a humanidade de Deus. Ela é também o futuro divino de homem.

in www.taize.fr

Leitura Bíblica do dia


Terça-feira, 31 de Março

O Senhor diz: «Povo meu, que te fiz, ou em que te contristei? Responde-me. Livrei-te da casa da escravidão. Lembra-te e reconhece os meus prodígios.»
Miq 6,1-8

Pequena meditação

Jesus, nossa paz, a tua vontade é ser tudo para nós. E se a tentação nos sugere que te abandonemos, Cristo, pobre e humilde de coração, Tu rezas em nós.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Leitura Bíblica do dia

Segunda-feira, 23 de Março

Cuidai de sobressair nesta obra de caridade. Conheceis bem a bondade de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por vós.
2 Cor 8,7-15

Pequena meditação:

Quando surgem os silêncios da alma, repousar em Deus é já um vislumbre do oásis em que a nossa sede é saciada.

in www.taize.fr

O pecado


Será que devemos ter remorsos dos nossos pecados?
No momento em que Pedro se apercebeu do que tinha feito ao renegar Jesus, «chorou amargamente» (Mateus 26,75). Algumas semanas mais tarde, no dia de Pentecostes, recordou aos habitantes de Jerusalém como tinha sido escandalosa a execução de Jesus inocente. E estes, «ouvindo estas palavras, ficaram emocionados até ao fundo do coração e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: ‘Que havemos de fazer, irmãos?’» (Actos 2,37) Parece que os remorsos se colam às faltas como uma sombra da qual não nos conseguimos afastar.

Estes remorsos são ambíguos: podem levar-nos ao desespero ou conduzir ao arrependimento. Desiludido consigo mesmo, Pedro poderia ter desesperado. Existe uma «tristeza do mundo que produz a morte». Mas a lembrança do amor de Cristo transformou as lágrimas de Pedro em «tristeza segundo Deus, que produz um arrependimento que leva à salvação» (2 Coríntios 7,10). Os seus remorsos tornaram-se então uma passagem, uma porta estreita que conduz à vida. A tristeza que é mortal, pelo contrário, são os remorsos daquele que só conta com as suas próprias forças. Quando estas se revelam insuficientes, começa a desprezar-se, chegando a odiar-se a si mesmo.

Talvez não haja arrependimento sem remorsos. Mas a diferença entre os dois sentimentos é enorme. O arrependimento é um dom de Deus, uma acção escondida do Espírito Santo que conduz a Deus. Para ter remorsos das minhas faltas não preciso de Deus, posso tê-los sozinho. Nos remorsos, fecho-me em mim próprio. Pelo arrependimento, pelo contrário, volto-me para Deus, esquecendo-me de mim e abandonando-me a ele. Os remorsos não corrigem a falta, mas Deus, para quem me dirijo através do arrependimento, «dissipa os meus pecados como uma nuvem» (Isaías, 44,22).

«Pecar» significa «não acertar no alvo». Como Deus nos criou para vivermos em comunhão com ele, o pecado é separmo-nos de Deus. Os remorsos nunca poderão libertar-nos deste afastamento em relação a Deus. Poderão até, se nos fecharem em nós mesmos, afastar-nos ainda mais de Deus e agravar assim o pecado! Segundo uma palavra um pouco enigmática de Jesus, o pecado é que «eles não creiam em mim» (João 16,9). A raiz do pecado, o único pecado no sentido forte do termo, é não acolher o amor de Cristo.

Um dia uma mulher foi ao encontro de Jesus. Ela chorava e, com as suas lágrimas, lavava-lhe os pés. Enquanto outros ficaram escandalizados, Cristo compreendeu e admirou-a. Esta mulher teve remorsos das suas faltas, mas os seus remorsos não a azedaram, não a paralisaram. Confiou e esqueceu-se de si própria. E Jesus disse: «…são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou» (Lucas 7,47). Acreditando nestas palavras, ela já não tinha que ter remorsos. Quem deveria ter remorsos de amar muito? Pela graça de Deus, os nossos próprios pecados podem conduzir-nos a amar mais. E então os remorsos devem dar lugar à gratidão: «Sem cessar, dai graças por tudo» (Efésios 5,20).

O que é o pecado original?
Desde que apareceu a vida, existe o enigma da morte. No mundo animal, a morte pode parecer natural, mas para os homens de todos os tempos ela é um problema. Por que razão desaparecem para sempre aqueles que amamos? Gostaríamos de viver felizes, sem que a felicidade acabasse de repente. É assim que, desde tempos imemoriais, o desejo de uma vida feliz produziu múltiplas representações de uma idade de oiro em que «tudo ainda estava bem». As histórias que falam disso tentam explicar qual foi a falta que fez com que a morte aparecesse no mundo.

A Bíblia vai beber a essas tradições. O Génesis começa por celebrar a bondade original da criação (capítulos 1 e 2). Em seguida relaciona as penas da existência, sobretudo a morte e a violência fratricida, com as faltas cometidas na origem (capítulos 3 e 4). Mas o que sobressai no relato bíblico é que os pecados originais são afinal os nossos próprios pecados: a recusa de confiar em Deus, as meias verdades para se desembaraçar do problema, atirar para o outro a culpa da sua falta, negar a responsabilidade dos seus actos. Sem responder ao porquê do mal, o Génesis reenvia o problema para cada um dos leitores. Adão ou Eva, Caim e Abel, somos nós.

No Novo Testamento, o pecado original torna-se um conceito mais explícito. Para o apóstolo Paulo, Adão representa a unidade do género humano, e a falta de Adão significa que, quanto ao pecado, não há diferenças entre os homens: «…todos estão sob o domínio do pecado. Assim está escrito: Não há justo algum, nem um sequer» (Romanos 3,9-10). Mas Paulo só se interessa por Adão para proclamar a luz de Cristo, que é tão universal, ou mesmo mais, como o contágio do pecado: «Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância» (Romanos 5,15).

Falar de pecado original é assim uma maneira de dizer que a salvação é primeiro universal e só depois individual. Cristo não veio para arrancar alguns do mundo mau, mas para salvar a humanidade. Todos são pecadores, com as mãos vazias perante Deus. Mas Deus oferece o dom do seu amor a todos. «Foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo» (2 Coríntios 5,19). A obra de Cristo trouxe «a todos os homens a justificação que dá a vida» (Romanos 5,18). Ninguém pode, pelas suas próprias forças, fugir aos impasses que são o destino comum de todos os homens. Mas, através de Cristo, a humanidade é salva, e cada um pode desde então acolher esta salvação.

Jesus evocou o pecado original à sua maneira: «Do coração dos homens saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios…» (Marcos 7,21). E, contudo, condena pouco, tem compaixão. Ao tomar consciência de que todo o ser humano tem a ferida do pecado, talvez devamos, nós também, ser mais misericordiosos. Seguindo Jesus, somos chamados a remediar mais do que a condenar sem piedade. Não se trata de minimizar a gravidade das faltas, mas de saber que não há pecado que Cristo não tenha vindo perdoar ao dar a sua vida na cruz.

in www.taize.fr

quarta-feira, 18 de março de 2009

Leitura Bíblica do dia


Quarta-feira, 18 de Março

Que entre vós não haja divisões, permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento.
1 Cor 1,10-13

Pequena Meditação

Os olhos de quem vai de começo em começo, numa vida de comunhão com Jesus Cristo, não se fixam nos seus próprios progressos ou retrocessos. A semente do Evangelho, depositada nas profundezas do ser, germina e cresce dia e noite. (4)
4. Ver Marcos 4, 27

in www.taize.fr

O Arcebispo de Cantuária em Taizé


Dr. Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária e chefe da Igreja Anglicana, visitará a Comunidade de Taizé de 5 a 9 de Agosto deste ano, acompanhado pela sua família e alguns colaboradores. Terá encontros com o irmão Alois, prior de Taizé, e com irmãos da Comunidade. Haverá também oportunidade para encontrar e falar com jovens de vários países que, então, participarem nos encontros internacionais em Taizé.
Será o quarto Arcebispo de Cantuária a visitar Taizé, desde a visita, em 1973 do Arcebispo Michael Ramsay. O actual Arcebispo recebeu o irmão Alois em Londres a 18 de Novembro de 2006. Nesse dia também participou na oração da noite animada pelos irmãos de Taizé na Abadia de Westminster, juntamente com o Cardeal Cormac Murphy-O’Connor e líderes de outras igrejas inglesas.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Leitura Bíblica do dia


Segunda-feira, 16 de Março

Com toda a humildade e mansidão, com paciência, suportai-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz.
Ef 4,1-7

Pequena Meditação

Deus só pode amar.» O que Ele nos pede, antes de mais, é que nos abandonemos nele. Quão maravilhosa é essa descoberta! A sua compaixão reanima uma bondade inesgotável no mais íntimo do nosso coração.


in www.taize.fr